Em 27 de outubro de 1962, o vice-comandante Vasili Arkhipov estava no mar do Caribe a bordo do B-59, um submarino soviético equipado com um torpedo nuclear da mesma potência da bomba Little Boy lançada em Hiroshima em 1945, quando impediu que acontecesse uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a então União Soviética apenas por não ceder à pressão do capitão Vitali Savitsky.
Em 1983, outra guerra nuclear quase aconteceu durante a realização do exercício de Able Archer, feito pelas forças militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que visava simular um ataque comunista na Europa Ocidental, ao qual a OTAN responderia com um ataque nuclear sobre a União Soviética e os países do Pacto de Varsóvia.
Mas naquele ano, os soviéticos se armaram fortemente porque imaginavam que não seria apenas um exercício, como acontecia anualmente, mas sim um ataque surpresa. Eles entraram em alerta geral, reforçando postos de comando em todo o bloco, suspendendo voos de rotina e até colocando uma bomba nuclear em cada esquadrão de caça-bombardeiros, que deveriam atacar em 30 minutos assim que recebessem o sinal, em caso de traição da OTAN.
Em 24 de fevereiro desse ano, com a invasão da Rússia na Ucrânia, após as declarações do presidente russo Vladimir Putin de que “reagiria a qualquer ajuda militar de qualquer país” e o alinhamento perigoso da China com ele — é inevitável passar pela cabeça a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial, assim como um conflito nuclear, por se tratar das três potências com maior reserva de dispositivos nucleares do mundo.
Mas em quais circunstâncias essas armas de destruição em massa podem ser usadas e quais são as chances?
A mais provável
De acordo com Alexandra Bell, especialista nuclear do Centro de Controle de Armas e Não-Proliferação em entrevista à Vox, as chances de as armas de destruição em massa serem usadas não são zero porque elas existem. “O dano seria incalculável. Basta apenas um ataque para matar centenas de milhares de pessoas em minutos e talvez milhões nos próximos dias, semanas e anos”, ressaltou Bell.
Um ataque nuclear causa um efeito dominó na natureza, destruindo ecossistemas, plantações, podendo levar à fome generalizada; alteração de vários aspectos do clima, como causar um resfriamento rápido em todo o globo devido aos detritos acumulados na atmosfera da Terra, longe do alcance das chuvas, bloqueando o Sol e causando uma noite de 24 horas. As consequências podem ser ainda piores porque outros países, como a China e Coreia do Norte, poderiam entrar no conflito com suas armas.
Acredita-se que se a Rússia for usar algum tipo de arma de destruição em massa será uma arma química, visto que possui o maior estoque dela do mundo, contando com dispositivos com cápsulas de agentes nervosos como Sarin, VX e o gás tóxico fosgênio.
Destruição sem precedentes
As autoridades de inteligência e proteção americanas e aliadas suspeitam que Putin possa estar planejando ou considerando valer mão de uma “operação de bandeira falsa”, como Adolf Hitler fez em 1 de setembro de 1939 durante a invasão à Polônia, após o Incidente de Gleiwitz.
Isso seria o suficiente para Putin alegar que os ucranianos os atacaram primeiro para poder usar, possivelmente, uma pequena parte de suas forças de armas químicas para “justificar” uma resposta ou coibir a ação inimiga.
Ou ainda, ele pode forjar um estoque de armas químicas ucranianas e usar uma justificativa de invasão post-hoc (causa e efeito: se um evento aconteceu após o outro, acredita-se que um é a causa do outro), como os EUA fizeram para endossar a invasão do Iraque na Segunda Guerra do Golfo, em 2003.
Ainda que seja especulação, o risco é grande, principalmente pela possibilidade de utilização de armas nucleares táticas ou estratégicas. A Rússia detém o maior arsenal desse tipo de dispositivo do mundo, com um total de 4.447 armas nucleares, das quais 1.912 são consideradas táticas.
As armas táticas são usadas apenas no campo de batalha, implantadas usando sistemas de curto alcance, como artilharia, mísseis balísticos de curto alcance, aeronaves ou mísseis de cruzeiro. Por outro lado, as armas estratégias são programadas para destruir alvos específicos, como cidades.
A única diferença entre elas é o impacto e nível de destruição.